Torre do relógio da Matriz de Bananal precisou de restauro urgente há 20 anos

Duas décadas depois de uma intervenção com técnicas inovadoras de restauro, reboco lateral volta a apresentar sinais de desgaste

Por Ricardo Nogueira 

Em 2005, poucos dias antes da tradicional festa do Senhor Bom Jesus do Livramento, Padroeiro de Bananal, em 6 de agosto, um susto marcou a cidade: parte do reboco lateral direito da Igreja Matriz cedeu e caiu sobre a calçada, gerando preocupação quanto à integridade da construção. O incidente - noticiado à época pela Gazeta em jornal impresso -, não causou vítimas, mas expôs a urgência de intervenções técnicas para garantir a segurança e a preservação de um dos mais importantes patrimônios históricos e culturais do município.

Duas décadas depois, a parte detrás do mesmo lado apresenta sinais de desgaste, com adoção de medidas preventivas por parte da paróquia e da prefeitura, interditando a área. (clique aqui para ler/reler a matéria)

Em 2005, o então pároco, padre Rodrigo Fernando Alves, buscou o auxílio de Cláudia Rangel, renomada restauradora que havia atuado na parte interna do templo. Ela recomendou a participação de especialistas e a iniciativa resultou em uma parceria inédita com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep), reunindo arquitetos, engenheiros e geoquímicos em um esforço coletivo para restaurar a estrutura.


O trabalho, considerado pioneiro, foi acompanhado em coberturas da Gazeta. A intervenção envolveu o uso de técnicas modernas combinadas com métodos tradicionais do século 19, época em que a igreja foi construída em taipa de pilão. Entre as inovações, destacou-se o emprego de fibras de polipropileno para substituir o capim original, utilizado como reforço estrutural, além de uma cola à base de acetato, misturada com lama, para vedar fissuras. Ao todo, foram utilizadas 28 toneladas de terra compactada para preencher o ponto avariado.

O professor Marcos Tognon, especialista em arquitetura histórica, e o professor Eduardo Salmar, coordenador do Laboratório de Sistemas Construtivos da Unimep, destacaram em entrevistas para a Gazeta de Bananal o valor científico e cultural da obra. “Esse restauro nos permitiu ampliar o conhecimento sobre técnicas ancestrais e sua adaptação aos dias atuais. Bananal tem em sua matriz um símbolo vivo da história brasileira”, afirmou Tognon.

O solo usado na restauração foi cuidadosamente selecionado após análises realizadas em cinco pontos do município, sendo o bairro Cerâmica uma das principais fontes. “Criamos uma composição com terra vermelha e branca, garantindo a qualidade ideal para o restauro. Foi uma experiência enriquecedora, e os bananalenses podem se orgulhar desse trabalho”, comentou Salmar.

Hoje, quase duas décadas depois, a restauração é lembrada como um marco na preservação do patrimônio de Bananal. Contudo, o mesmo ponto restaurado em 2005 voltou a apresentar problemas no reboco, levantando novamente preocupações sobre a integridade da estrutura e a necessidade de novas intervenções. A situação reforça a importância de um olhar constante para a manutenção desse símbolo de fé e história, que conecta gerações e carrega o legado cultural do município.

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