A proximidade de Bananal com as
usinas nucleares de Angra dos Reis (raio inferior a 50 km), sempre motivou
suspeitas e comparações atreladas ao índice de casos de câncer na cidade. Mesmo
sem qualquer embasamento cientifico, o tema é recorrente junto a pacientes e
familiares.
Reconhecendo que deve ser
responsabilidade da empresa monitorar a saúde das cidades próximas a Angra, a
Fundação Eletronuclear de Assistência Médica (Feam), através de seu Centro de
Informações em Radioepidemiologia (Cira), realizou o estudo "Padrão da
Mortalidade da População Circunvizinha à Central Nuclear Almirante Álvaro
Alberto - 1986 a
2007".
A análise foi centrada nas
principais causas de óbitos de Angra dos Reis e outros 46 municípios vizinhos (Bananal
entre eles), motivados por doenças relacionadas à exposição a radiação
ionizante, como anomalias congênitas e câncer.
O resultado final mostrou que
não houve alteração no perfil de mortalidade de Angra dos Reis, comparado aos
outros municípios, concluindo que morar próximo à usina nuclear não interfere
nos óbitos observados por neoplasias e malformações congênitas".
A metodologia aplicada ao
estudo seguiu padrões internacionais e duas outras pesquisas epidemiológicas nacionais
efetuadas em anos anteriores, dentre as quais uma da FIOCRUZ (Fundação Osvaldo
Cruz).
O perímetro analisado engloba
47 municipios paulistas, fluminenses e mineiros definidos a partir da distância
da possível fonte de exposição. Um parâmetro universalmente utilizado pelos
diversos órgãos de segurança nuclear como área alvo de planos de emergência, na
eventualidade de um acidente nuclear.
Classificando Angra dos Reis
como Área de Influência Direta por estar a 30 kms das instalações nucleares, o
estudo estratificou dois outros grupos de municípios da mesma região
geográfica.
Bananal integra a Área de Influência Indireta, juntamente
com outros 5 municipios cujas sedes estão localizadas no raio de 30 km a 50 km da fonte radioativa:
Arapeí, São José do Barreiro, Rio Claro, Paraty e Mangaratiba.
Considerados na Área de
Controle, a uma distância de 50
km a 100
km da fonte radioativa e fora da área de influência da
Central Nuclear estão outros 40 municípios dos estados de São Paulo, Minas
Gerais e Rio de Janeiro. Na Área de Controle 1, estão as cidades de Areias, Silveiras, Queluz, Lavrinhas,
Cruzeiro, Cachoeira Paulista, Canas, Lorena, Guaratinguetá, Cunha, Roseira, Aparecida,
Potim, São Luis do Paraitinga, Ubatuba, Alagoa, Barra do Piraí, Barra Mansa,
Bocaina de Minas, Engenheiro Paulo de Frontin, Itaguai, Itamonte, Itanhandu,
Itatiaia, Japeri, Lagoinha Marmelópolis, Mendes, Paracambi, Passa Quatro, Passa
Vinte, Pinheiral, Piquete, Piraí, Porto Real, Quatis, Resende, Seropédica,
Virgínia e Volta Redonda. Como Área de Controle 2 está o município de Cabo
Frio.
Nas 88 páginas do estudo são
disponibilizados dezenas de gráficos e estatísticas de doenças e mortalidades,
separadas por áreas, sexo, faixas etárias e períodos.
Bananal é diretamente
mencionado na análise da taxa de mortalidade por neoplasia (página 26) efetuada
entre 1986 e 1990. “Na Área de Influência Indireta, a maior taxa observada
ocorreu no município de Bananal com taxa de 78 e São José do Barreiro com taxa
de 73 óbitos por neoplasias. Cabo Frio apresentou taxa média de 73 óbitos e Angra
dos Reis, taxa de 61 óbitos de mortalidade por neoplasias por 100.000”.
Na página seguinte, em análise
da taxa bruta do mesmo item, padronizada pela população do estado do Rio, outra
menção: “(...) Na Área de Influência Indireta, a maior taxa observada ocorre no
município de Mangaratiba, com taxa de 75 e Bananal com taxa de 71 óbitos por
neoplasias. Cabo Frio apresentou taxa média de 107 óbitos e Angra dos Reis,
taxa de 91 óbitos de mortalidade por neoplasias por 100.000 habitantes”.
No período de 1991 a 1995 o município
continua entre as maiores taxas: “(...) Na Área de Influência Indireta, o
município de Rio Claro apresentou taxa de 87 óbitos no período, Bananal de 76
óbitos e 71 óbitos em
Mangaratiba. Angra dos Reis apresentou taxa média de 70
óbitos e Cabo Frio taxa média de 73 óbitos por 100.000 habitantes, no período”.
Na taxa bruta deste item Bananal deixou de constar entre os municípios com
maior incidência, dando lugar a Rio Claro e Paraty.
Na análise entre 1996 e 2000
Bananal ficou com o segundo maior índice na mortalidade por neoplasia (taxa 86)
e na taxa bruta (85 óbitos).
No período de 2001 a 2007 Bananal deixou
de constar entre os maiores índices de óbito, dando lugar a São José do
Barreiro que passou a ter o 2º maior índice entre os municípios da Área de
Influência Indireta.
Na conclusão do trabalho são
apontados diversos fatores que condicionam seus resultados às características
de cada cidade e o modo de viver de seus cidadãos.
Logo após a constatação de que
não há maiores riscos em se morar próximo às usinas o estudo faz uma ressalva:
“... Entretanto, o poder de análise de um estudo ecológico pode apenas indicar problemas
que necessitam de uma verificação mais detalhada, já que a metodologia do
estudo não tem necessariamente um caráter conclusivo com evidenciação de nexo
de causalidade.”
Diante disso, o documento é
encerrado com algumas recomendações, dentre as quais a de se manter o monitoramento
da mortalidade nas áreas de influência da Central Nuclear, o aprimoramento da
metodologia deste estudo, passar a utilizar a dose efetiva de radiação como
indicador de exposição, incorporação de outros fatores de morbidade e
utilização de técnicas de Geoprocessamento para ampliar a capacidade cientifica
de compreensão dos efeitos da radiação ionizante sobre a saúde da população.
O Blog disponibiliza abaixo um link para a
integra do estudo e também um vídeo levado ao ar no ano passado pela
TV Bandeirantes, quando ocorreu o acidente da usina de Fukushima no Japão, retratando
os efeitos da radiação sobre o organismo humano.
Padrão da Mortalidade da População Circunvizinha à Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto - 1986 a2007. |